Brasileiro cofundador do Facebook conta como conheceu dono do site
Dois "nerds" desenturmados em Harvard uniram-se para tentar aumentar suas chances com as garotas e, quase por acidente, acabaram criando uma das maiores empresas do mundo. O fenômeno era a rede de relacionamentos Facebook, que não para de crescer e atrair usuários.
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Cena do filme "A Rede Social"; história baseada em livro revela os jogos de poder por trás da criação e sucesso do site Facebook |
A história de suas vidas foi investigada por Ben Mezrich, autor de dez livros, e deu origem ao livro "Bilionários por Acaso: A Criação do Facebook, uma História de Sexo, Dinheiro, Genialidade e Traição", publicado pela editora Intrínseca.
Mezrich realizou dezenas de entrevistas e analisou milhares de documentos, entre eles processos judiciais, para remontar a história das mais jovens pessoas a serem milionárias. A trajetória, recontada no livro, deu origem ao filme "A Rede Social", de David Fincher ("Clube da Luta"), que liderou as bilheterias norte-americanas em sua estreia.
Exceto pelos nomes publicamente conhecidos, o autor modificou identidades para manter a privacidade. Como entrevistou muitos envolvidos, algumas versões de histórias contadas divergem entre si. Na apresentação do livro, Mezrich lembra ainda, que Mark Zuckerberg, o homem por trás do Facebook, recusou-se a falar.
Um deles, Eduardo Saverin, foi de grande ajuda para Ben escrever a obra, tendo grande parte de seu ponto de vista relatado. Co-fundador do site, Saverin é brasileiro e era o melhor amigo de Zuckerberg. Dispensado pelo sócio quando não era mais necessário, sentiu-se traído e processou a empresa que ajudou a criar.
Leia abaixo trecho do livro "Bilionários por Acaso" sobre o encontro dos dois "nerds":
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Era um lugar assustador, especialmente para um garoto como Eduardo. Ele não era pobre - havia passado a maior parte de sua infância entre comunidades de classe média alta no Brasil e em Miami antes de se matricular em Harvard -, mas sentia que o tipo de opulência do Velho Mundo que a sala representava lhe era completamente estranha. Mesmo com o álcool, Eduardo perceberia suas inseguranças remoendo as profundezas de seu estômago. Ele se imaginou mais uma vez como um calouro, pisando pela primeira vez o pátio de Harvard, pensando o que diabos estava fazendo ali e como poderia fazer parte de um lugar como aquele. Como ele poderia fazer parte de um lugar como aquele?
Ele se inclinou na soleira, analisando a multidão de jovens que enchiam a maior parte daquele salão cavernoso. Uma turba, de verdade, que se amontoava ao redor dos bares improvisados que haviam sido instalados especialmente para aquele evento. Os próprios bares eram muito malfeitos - mesas de madeira que não passavam de meras tábuas, completamente fora de sintonia em um ambiente tão austero -, mas ninguém sequer notava, pois eles eram coordenados pelas únicas garotas no lugar; loiras peitudas parecidas umas com as outras vestindo tops pretos e curtos, trazidas de alguma faculdade local só para mulheres a fim de atender aquele bando de garotos.
O bando era, de muitas formas, mais assustador que o local. Eduardo não poderia dizer com certeza, mas achava que havia cerca de duas centenas deles - todos homens, todos vestidos com ternos escuros parecidos. A maior parte era do segundo ano; uma mistura de todas as raças, mas havia algo muito comum em todos os rostos - os sorrisos pareciam muito mais seguros do que o de Eduardo, havia confiança naqueles duzentos pares de olhos -, eles não estavam acostumados a serem postos à prova. Eles eram dali. Para a maioria deles, essa festa - e esse lugar - era só uma formalidade. Eduardo respirou fundo, e fez uma leve careta ao inalar o ar poluído. As cinzas da fogueira lá fora aos poucos atravessavam as cortinas, mas ele sequer se moveu de onde estava, pelo menos não por enquanto. Ainda não estava pronto.
(...)
Ele estava de volta à festa caribenha, em todos os detalhes. Lembrava como o reggae ressoava nas paredes, o som da bateria ferindo seus ouvidos. Lembrava-se do gosto do ponche de rum, das garotas de biquíni florido.
Lembrou até do garoto de cabelo enroladinho que estava no canto da sala, a poucos metros de onde ele encontrava-se agora, observando seu avanço, tentando arrumar coragem para aproveitar sua deixa e aproximar-se de um dos veteranos do Phoenix antes que fosse tarde demais. Mas o garoto nunca saiu de seu canto; na verdade, sua capacidade para se sabotar era tão palpável, que parecia agir como um campo de força, criando uma área ao seu redor que funcionava como um magnetismo às avessas, que fazia com que ninguém sequer passasse perto dele.
Eduardo sentiu certa pena na hora - porque ele havia reconhecido o tal garoto de cabelo enroladinho, e porque não havia jeito de aquele cara entrar no Phoenix. Um garoto como ele não tinha como se dar bem em nenhum dos Clubes Finais - sabe Deus que diabos ele estava fazendo naquela festa. Harvard tem inúmeros nichos para garotos desse tipo; laboratórios de computação, clubes de xadrez, dúzias de organizações underground e provedores de hobbies para qualquer tipo de interesse social imaginável. Bastou um relance para Eduardo perceber que, obviamente, aquele garoto sequer sabia como funcionava a rede de relacionamentos sociais que se deve criar para chegar a um clube como o Phoenix.
Mas naquela hora, como agora, Eduardo estava muito ocupado atrás de seu sonho para perder tempo pensando em um garoto esquisito no canto da sala.
Certamente, ele não tinha como saber, nem antes nem então, que aquele garoto com o cabelo enroladinho viraria do avesso todo o conceito de rede de relacionamentos sociais - que um dia aquele garoto com o cabelo enroladinho que tentava entrar nas primeiras festas da faculdade mudaria mais a vida de Eduardo que qualquer Clube Final.